segunda-feira, 10 de outubro de 2016

"Existe Algo de Bom nos Homens?" - Parte VI

O Fato Mais Ignorado


A primeira e grande diferença básica tem a ver com o que eu considero o fato mais menosprezado acerca de gênero. Cogite nesta questão: qual porcentagem de nossos ancestrais eram mulheres?

Esta não é uma pergunta capciosa, e a resposta não é "50%". Claro, mais ou menis metade da população que já viveu era de mulheres, mas não é esta a questão. Estamos perguntando acerca de todas as pessoas que já viveram que deixaram descendentes que vivem hoje. Ou, colocando de outra forma, todo bebê tem um pai e uma mãe, mas alguns desses pais tiveram múltiplos filhos.

Pesquisas recentes usando análises de DNA responderam esta questão há uns dois anos. A população humana atual descende do dobro de mulheres em relação aos homens.

Eu penso que esta diferença é o fato mais menosprezado sobre gênero. Para terem ideia desta diferença, vocês teriam que ter algo como, ao longo de toda a história da raça humana, talvez 80% das mulheres contra apenas 40% dos homens se reproduziram.

Em nosso campo de pesquisa está ocorrendo debates acerca de quanto do comportamento pode ser explicado pela teoria evolutiva. Mas se a evolução explica alguma coisa, ela explica coisas relacionadas à reprodução, porque reprodução está no coração da seleção natural. Basicamente, as características que foram mais eficazes para reprodução estariam no centro da psicologia evolutiva. Seria espantoso se essas chances vastamente diferentes entre homens e mulheres falhassem em produzir algumas diferenças de personalidade.

Para mulheres ao longo da história (e pré-história), as chances de reprodução têm sido muito boas. Mais tarde neste ensaio iremos ponderar coisas como por que é tão raro para uma centena de mulheres se reunir e construir um navio e navegar para explorar regiões desconhecidas, enquanto homens têm feito tais coisas muito frequentemente. Eles poderiam naufragar ou ser mortos por selvagens ou contrair doenças. Para mulheres, a coisa ótima a fazer era seguir junto com a manada, ser cordial, não apostar alto. As chances eram boas de que homens viriam e ofereceriam sexo e seria possível ter bebês. Tudo que importa é escolher a melhor oferta. Nós descendemos de mulheres que não correram riscos.

Para homens, o panorama era radicalmente diferente. Se o homem seguisse a manada e não arriscasse, as chances seriam de que ele não teria filhos. A maior parte dos homens que já viveram não têm descendentes vivos hoje. Suas linhagens foram interrompidas. Portanto foi necessário tomar oportunidades, tentar novidades, ser criativo, explorar outras possibilidades. Navegar rumo ao desconhecido pode ser arriscado, e ele poderia naufragar, ou ser morto, ou o que fosse, mas novamente se ficasse em casa ele não se reproduziria de qualquer forma. Nós somos majoritariamente descendentes dos tipos de homens que fizeram a viagem de risco e conseguiram retornar ricos. Neste caso, eles conseguiram finalmente ter boas chances de passar adiante seus genes. Somos descendentes de homens que tomaram oportunidades (e foram sortudos).

A imensa diferença no sucesso reprodutivo muito provavelmente contribuíram para algumas diferenças de personalidade, porque diferentes características apontaram o caminho do sucesso. Mulheres fizeram melhor minimizando os riscos, enquanto homens de sucesso foram os que mais arriscaram. Ambição e ímpeto competitivo provavelmente importaram mais para o sucesso masculino (medido em descendência) que para o feminino. Criatividade provavelmente foi mais necessária, para auxiliar o indivíduo homem a se manter de alguma forma. Mesmo a diferença em motivação sexual foi relevante: Para muitos homens, havia menos chances de se reproduzir e assim eles tinham que estar prontos para qualquer oportunidade sexual. Se um homem dissesse "ah, hoje não, estou com dor de cabeça", ele poderia perder sua única oportunidade.

Outro ponto crucial. O perigo de se não ter nenhum filho é apenas um dos lados da moeda masculina. Cada criança tem uma mãe e um pai biológicos, e portanto se existissem apenas metade de pais em relação a mães entre nossos ancestrais, então alguns desses pais tiveram bastantes filhos.

Olhem da seguinte forma: A maior parte das mulheres teve alguns poucos filhos, e dificilmente uma mulher teve mais de uma dúzia - mas muitos pais tiveram bastante, e alguns tiveram dúzias, até mesmo centenas de filhos.

Em termos de competição biológica para produzir descendência, então, homens superaram mulheres tanto entre os fracassos quanto entre os maiores sucessos.

Colocando isso em termos mais subjetivos: Quando eu caminho por aí e tento observar homens e mulheres como se fosse a primeira vez que os vejo, é difícil escapar da impressão (desculpa, caras!) que mulheres são simplesmente mais adoráveis e amáveis que homens. (Penso eu que isto explica o efeito MSM que mencionei antes.) Homens podem querer ser mais amáveis, e homens podem e de fato conseguem mulheres que os amem (portanto, a habilidade está ali), mas homens têm outras prioridades, outras motivações. Para mulheres, ser amável foi a chave para atrair o melhor companheiro. Para homens, porém, era mais uma questão de derrotar montes de outros homens somente para se ter uma companheira.

Contrabalanços novamente: talvez a natureza projetou mulheres que buscassem ser amáveis, enquanto homens foram projetados para se esforçar, na maior parte das vezes sem sucesso, pela grandiosidade.

E isto valeu a pena, mesmo para a parte com "a maior parte das vezes sem sucesso". Peritos estimam que Gengis Khan teve centenas e talvez mais de mil filhos. Ele empreendeu grandes riscos e eventualmente conquistou a maior parte do mundo conhecido. Para ele, os grandes riscos levaram a enormes recompensas em descendência. Meu ponto é que nenhuma mulher, mesmo que conquistasse tão vasto território quanto Gengis Khan, poderia ter milhares de filhos. Lutar por grandiosidade neste sentido oferecia à mulher nenhuma recompensa biológica. Para o homem, a possibilidade estava lá, e assim o sangue de Gengis Khan corre em um enorme segmento da população humana de hoje. Por definição, apenas alguns homens podem alcançar a grandiosidade, mas para os poucos que conseguiram, os ganhos foram reais. E nós somos descendentes daqueles grandes homens muito mais do que dos outros. Lembre-se, a maior parte dos homens medíocres não deixou um descendente sequer.

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