Este texto deve entrar para uma das traduções mais raivosas que já devo ter feito. Eis o desabafo-denúncia de Hannah Wallen, a HoneyBadger, contra Amy Schumer, que se vangloria de ter estuprado um rapaz bêbado.
Amy Schumer, Vá Se Foder!
Todos nós já ouvimos a narrativa feminista sobre piadas de estupro, não?
De acordo com a mídia e os comentaristas feministas, piadas de estupro não são engraçadas. Elas têm toda uma narrativa só sobre este tópico. Piadas de estupro, dizem elas, são parte da cultura do estupro. Isto, claro, a não ser que estejamos falando de uma feminista usando sua rotina de comédia como plataforma para amplificar alegações sem provas - ou até mesmo comprovadamente falsas - contra o oponente de uma candidata apoiada pelo feminismo. Daí então trata-se apenas de negócios habituais, né, Amy Schumer?
Não tem importância alguma que suas colegas feministas tenham usado a narrativa da cultura do estupro, em especial a ideia que piadas de estupro machucam pessoas que passaram por abuso sexual, como um chicote para infligir os outros até a total complacência. Enquanto se fizer isso "pelo motivo certo", se está isento de críticas.
Nem mesmo um alerta de gatilho traumático é necessário também, a fim de alertar aqueles que as feministas nos contam que estão deixados tão mentalmente cicatrizados que a mera menção de assalto sexual é um verdadeiro combustível para o colapso vai lá saber porquê!
É diferente quando é você quem faz, não é, Amy? É tão diferente, de fato, que você tem direito adquirido de usar os membros de sua audiência pagante que tenham sido elas mesmas vítimas de abuso sexual como escudos contra o julgamento de duzentas pessoas que dispensam fora suas bobajadas.
Afinal, não é como se você, uma feminista em posição privilegiada, fosse sequer fazer algo que suas patrocinadoras no movimento pudessem considerar sexualmente predatório ou degradante a outra pessoa - correto, Amy?
Oh, espera um pouco... pela sua própria confissão, você fez exatamente isso. De fato, você descreveu em detalhes, jactando-se sobre tratar a experiência como um trampolim para aumentar sua auto-estima.
Imagina se trocássemos os sexos.
E se um homem de sua idade descrevesse que nos tempos de colégio quando ele recebeu uma chamada telefônica de manhã cedo de uma garota que ele tinha perseguido como um cãozinho perdido, apenas para chegar aonde ela estava e vê-la tão chapada que continua desmaiada durante o boquete que ele "permitiu" que ela fizesse?
Certamente o chamariam de estuprador. De fato, o chamariam de "assustador-maníaco-perseguidor-que-virou-estuprador". E mais ainda, o mesmo diriam as leis do estado no qual sua história tomou lugar .
Mas quando você faz é diferente, não é, Amy? De verdade, você pode não apenas contar a história de como, enquanto completamente sóbria, você teve sexo com um cara bêbado que não recobrava a consciência... você pode contar isso sem um farrapinho de consideração pela sua dignidade humana. Como uma comediante aprovada pelo feminismo, você tem o direito socialmente adquirido de admitir livremente seu intento de, desde o início, usar "Matt" como nada além de um uma muleta para apoiar o seu ego ferido. Nada importa se sua descrição é a de uma então atleta do Ensino Médio focado em usar um cara para restaurar sua própria posição social em vez de realizar um esforço para fazer qualquer coisa produtiva como participar das coisas que dantes te fizeram popular. Afinal de contas, você é mulher, e mulheres têm o direito adquirido a um certo grau de "respeito", correto?
Enquanto você estava pensando sobre quão desesperada estava "em ser realizada, e tocada, e se sentir desejada", já te passou pela cabeça a possibilidade de que seu alvo a chamou porque era isso o que ele queria? Te ocorreu que um cara que você chama "uma criança von Trapp crescida" que "devia estar graduado, mas precisava de um ano extra", podia estar passando por problemas sociais semelhantes aos que você dizia estar?
Claro que não te passou, ou se tivesse passado, certamente não importaria para a garota dantes-popular confrontada com a primeira vez sendo - hunf! - ordinária!
Enquanto você planejava como iria compartilhar a história, te passou pela cabeça que você diria a pessoas que conhecia que sua marca era tão inebriante que ele não tinha noção suficiente do que tinha cheirado? Que sua coordenação motora estava seriamente reduzida pelo seu nível de intoxicação? Que ele estava tão bêbado que estava com impotência alcoólica? Que ele perdeu a consciência várias e várias vezes?
Não era o bastante, porém, apenas escapar admitindo tudo isso. Não, uma feminista vai pro tudo ou nada, não é? Sua viagem pela Avenida da Memória até a Estuprolândia tinha que incluir uma aniquilação da dignidade de seu velho amigo Matt para revelar-lhe sua humanidade despida por debaixo... não apenas julgando a técnica sexual de um rapaz chumbado demais para ficar acordado, mas julgar também o pôster na parede e até sua vida pré-universitário volta para casa. Suas censuras encerraram com você chamando seu confuso pau-amigo de "homem-garoto" - como se seu plano de usá-lo como seu próprio pedestal fosse um ato de maturidade.
Entao você tem a audácia de não apenas protestar contra um homem sobre acusações falsas e politicamente motivadas... você sugere a sobreviventes de abuso sexual que atuem como seu escudo contra o asco dos membros da audiência que viram através do seu ato e foram-se embora.
Sua audiência sabe que por muitos dos seus padrões, pelos padrões de sua antiga universidade, e pela lei do estado [NT1] em que esta história aconteceu, você é uma criminosa que escapou da justiça?
Aqueles que ficaram e não foram embora sabiam que uma estupradora convicta stava incitando-os a promover falsas acusações, do mesmo tipo que feministas dizem que só são ruins porque quebram a credibilidade de vítimas reais?
Como você tem coragem, sua porca vadia mentirosa hipócrita de olho esbugalhado?
Se sua história é verídica, você estuprou um cara bêbado, e então se vangloriou disso e escavou tudo que podia arrancar de sua própria memória sobre aquele rapaz a fim de ridicularizá-lo e ganhar umas risadas.
Você tem uma puta de uma audácia em pedir que vítimas reais de violência sexual sejam seu exército pessoal.
FootNotes:
- NT1: nos EUA, cada estado pode ter diferentes leis penais, ao contrário do Brasil, no qual há um e apenas um Código Penal válido para todo o território nacional.
Título Original | Fuck you, Amy Schumer |
Autor | Hannah Wallen |
Link Original | http://honeybadgerbrigade.com/2016/10/19/fuck-you-amyschumer/ |
Link Arquivado | http://archive.today/syYcy |
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