sábado, 26 de maio de 2018

"Pós-Estruturalismo e Direitos e Liberação dos Homens" [Eva Barb]

Pós-Estruturalismo e Direitos e Liberação dos Homens

Pós-Estruturalismo e Direitos e Liberação dos Homens

Pós-estruturalismo é uma teoria interessante a se cogitar enquanto o campo acadêmico de estudos dos homens lentamente emerge lentamente para a coerência porque é a própria teoria que forneceu premissas para o feminismo deslindar na segunda e terceira ondas. Só agora – após o feminismo, a teoria queer, e estudos transgêneros – estudos sobre homens e masculinidade são uma disciplina acadêmica factível (ainda que escassamente). Possivelmente esta progressão de discursos de gênero diz o bastante acerca do apagamento da privação de direitos dos homens na sociedade contemporâneas. Afinal, podemos ser realmente tão fúteis a ponto de pensar que homens são criaturas banais indignas de dissertação?

Apenas começando a escassamente descascar uma das muitas espessas camadas que sufocam esta questão, eu identifico a formação básica do pós-estruturalismo bem como ele tem sido mal apropriado na sociopolítica. Eu uso a análise de Michael Messner sobre a formação do movimento de liberação dos homens ("The Limits of the 'Male Sex Role'") porque seu ensaio fornece uma compreensão sobre como esse movimento foi ofuscado, particionado, e confundido pelo feminismo.

O dogma estruturalista da significação saussureana propõe que um signo consiste de duas partes psicológicas: um padrão sonoro (sinal) e um conceito (significação). Portanto, a palavra homem pode ser linguisticamente dissecada no som em português 'homem' e a significação do homem é definida pelas associações culturais com o que o homem é ou representa.

Dois detalhes significativos do modelo de significação de Saussure são que a linguagem é inerentemente arbitrária e é uma instituição social única na qual a "inércia natural [da sociedade] exerce uma influência conservadora sobre ela"1. Portanto, a principal inquirição estruturalista é: Como a linguagem define e daí monitora nossos paradigmas e maneiras nas quais experimentamos o mundo à nossa volta?

Tome, por exemplo, o fenômeno moderno do vocabulário queer: agênero, não-binário, trans, intersexo, andrógino, pangênero, fluidogênero, &c. Linguagem é o próprio escopo que traz esses gêneros não-tradicionais à visibilidade. A "inércia natural" da sociedade no século passado bem como a aguda onda de ativismo (trans)gênero nos anos 1990 influenciou ultimamente a criação de um verbete na Wikipedia intitulado "Linguagem neutra de gênero" 2, que contabiliza algumas dessas palavras mencionadas anteriormente.

O desvanecimento do espectro de gênero visível na sociedade mediante uma evolução gradual da linguagem de sexo para gênero, de hermafrodita para intersexo, de andrógino para bigênero (e assim por diante), corresponde com a mudança de noções na significação destas palavras; portanto, reconfigurando paradigmas linguísticos a fim de encaixar a normativa das maiorias sociais. Ironicamente, esta progressão de comunidades marginalizadas e minoritárias para a esfera principal inatamente "Aliena" o que a sociedade considera ser os opressores privilegiados de tais grupos. A saber, homens brancos héteros.

A desconstrução derrideana (geralmente referida como pós-estruturalismo - traçando a partir de, e desafiando - a teoria da linguagem de Saussure - afirma que um signo é mais que seu sinal e significação; um signo também pode ser desmembrado por dualidades, ou pares binários, que sustêm seu significado. Linguagem nada mais é que uma bagunça de dicotomias; estas dicotomias são os próprios mecanismos que dão significado á palavra, portanto aquele verdadeiro significado é ilusório e em constante estado de deferimento. Semelhante à noção de "antítese abstrata refletida" de Karl Marx 3, cada lado de um par binário reflete e dá significado ao outro - transgênero/cisgênero, preto/branco, hétero/gay, queer/normativo, proletário/burguês, liberal/conservador etc. Apesar de todos esses pares binários que nossa sociedade, dirigida pela linguagem, pode ser dividida, um ressoa sobre todos, para o que provavelmente tem sido o nascimento do moderno "zeitgeist de gênero": homem/mulher, que o feminismo subverteu para: mulher/homem.

Uma das principais questões com o feminismo - e a política de identidade que ele ajudou a alimentar - é a falha apropriação do pós-estruturalismo sobre as questões de direitos civis. Ao estabelecer posições de 'nós VS eles', estes movimentos abstraíram os seres humanos usando a linguagem para vitimizar/culpar, resultando na redução da complexidade intrínseca tanto da linguagem quanto das pessoas. Movimentos civis modernos consequentemente alienam e demonizam a masculinidade e homenidade porque homens culturalmente evoluíram para a significação do inverso de qualquer forma de privação de direitos. Só precisamos considerar (como faz Messner)4 o homem branco pobre para desmistificar a danação de um homem universalizado e privilegiado.

Rastreando o movimento de liberação dos homens nos anos 1970 (e daí por diante), Messner examina os variáveis discursos da liberação/direitos dos homens e seu uso de ideologias dos papéis homem/mulher para o antifeminismo e pró-feminismo pioneiros e o caminho do meio, o warren-farrelismo. Messner fornece uma linha do tempo bastante completa destas três facções justapostas - e ainda assim divergentes - do movimento de liberação dos homens.

Os antigos ativistas da liberação dos homens forneceram peso equilátero às opressões de homens e mulheres, enquanto mediavam as tensões entre vitimização e privilégio masculinos. Como resultado da crítica feminista, em meados de 1970 os ALH começaram a focar em como homens são inerentemente opressores. Assim nasceu o homem feminista. 5

Messner também discute o lado oposto do fenômeno supra mencionado (a saber, o anti-feminismo):

É instrutivo examinar o declive no discurso da linguagem simétrica de 'iguais opressões' enfrentadas por mulheres e homens do movimento de liberação dos homens de meados dos anos 1970 para a linguagem furiosa de vitimização masculina do movimento anti-feminista do final dos anos 1970 e 1980. 6

Messner implica que este "declive" dos exames simétricos dos papéis de gênero social para a "furiosa" crítica do matriarcado é um resultado do paradoxo que institucionalizou o patriarcado mostrado pelos liberacionistas dos homens. Ele sugere que o catalisador para o anti-feminismo foi quando alguns ALH notaram que o feminismo não era o sundae de creme com cerejinha em cima que eles pensavam ser; de fato, foi explicitamente anti-homem e crítico de qualquer sugestão de que homens pudessem sequer ser vítimas.

Ainda que o ensaio de Messner seja bastante antigo, ele conduz a uma abordagem de como o movimento de liberação dos homens cindiu-se no binário pró-feminismo/anti-feminismo, e como isto incitou o movimento contemporâneo de ativismo pelos direitos dos homens.

Os direitos dos homens, tanto como causa civil como disciplina acadêmica, provavelmente sofreu tal atraso por causa da inconsciente insistência da validade dos modelos binários. Ao subverter um presunçoso gênero binário patriarcal, o feminismo forçou (e está forçando) a homenidade e masculinidade em posições subalternas de emudecimento, o que é reforçado por discursos como o pós-colonialismo e a teoria queer que considera a homenidade branca hétero como seus antitéticos. A todo momento, estes discursos acadêmicos são referidos pela arbitrariedade dos sistemas de gênero. Deixando a desejar em autoconsciência, ao que parece, a academia é uma praça de exclusão ativa do homem. Como, se possível, devemos começar a desenterrar a homenidade do buraco anacronístico em que foi colocada?


Footnotes:

1

Saussure, Ferdinand de. "General Principles: Nature of the Linguistic Sign." Course in General Linguistics. Translated by Roy Harris. Open Court, 1986. 108.

2

"Gender-neutral language." Wikipedia. https://en.wikipedia.org/wiki/Gender-neutral_language. Accessed 26 Apr. 2018.

3

Lefebvre, Henri. "What Is Modernity?" Introduction to Modernity: Twelve Preludes, September 1959-May 1961. Translated by John Moore. Verso, 1995. 178.

4

Messner, Michael A. "The Limits of the 'Male Sex Role': An Analysis of the Men's Liberation and Men's Rights Movements' Discourse." Gender & Society, 12.3 (1998): 265. Accessed 26 Apr. 2018.

5

Ibid. 270-1.

6

Ibid. 268.


Table 1: META
Título Original Post-structuralism and men’s liberation/rights
Autor Eva Barb
Link Original https://www.avoiceformen.com/featured/post-structuralism-and-mens-liberation-rights/
Link Arquivado http://archive.is/onOVM

Created: 2018-05-26 sáb 16:05

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