É claro, existe uma óbvia tréplica ao argumento exposto acima. Serviço
doméstico, pode-se argumentar, é feito não somente para benefício das próprias
mulheres, mas também para benefício de seus maridos e seus filhos que também
ocupam suas casas. De fato, feministas por vezes têm ido além e sugerido que
maridos são os únicos beneficiários do serviço doméstico realizado pelas
esposas, como quando elas descrevem as esposas como meras 'escravas' ou
'servas domésticas' de seus maridos.
Apesar de a suposição feminista que serviço doméstico são feitos somente para
o benefício do marido é certamente implausível, a controvérsia mais moderada,
a saber, que maridos, esposas e prole beneficiam-se todos eles do serviço
doméstico realizado por qualquer um deles parece, à primeira vista,
superficialmente convincente.
Afinal, um marido tipicamente vive na mesma morada que sua esposa, usa o mesmo
banheiro e até mesmo divide a mesma cama. Se ela faz a sua cama, então, ela é
obrigada, inadvertidamente ou não, a fazer a dele ao mesmo tempo … da mesma
forma se ela pretende limpar seu banheiro. Portanto, mesmo a mais amarga e
vingativa das esposas seguramente estaria pressionada a realizar o serviço
doméstico de tal forma a beneficiarem apenas a si mesmas, mesmo assumindo que
ela também tenha uma mentalidade. Por outro lado, uma esposa que, de acordo
com a doutrina feminista, pretende fazer trabalhos domésticos somente em
benefício de seu marido se sentiria pressionada a não beneficiar-se
inadvertidamente.
Talvez, possa então parecer, uma suposição razoável é a que o serviço
doméstico realizado por uma esposa (ou marido) beneficia marido e esposa de
forma aproximadamente igual.
[Pelo bem da simplicidade, eu ignorarei pelo momento qualquer benefício
ostensivo para a prole. Esta questão será abordada mais tarde na seção 'Por
que cuidados infantis para com seus próprios filhos também não é trabalho'
(veja abaixo). Vamos apenas assumir, por ora, que o casal em questão não tenha
filhos.]
Interessantemente, mesmo esta suposição superficialmente convincente (a saber,
que o serviço doméstico beneficia marido e esposa igualmente) torna as cifras
citadas anteriormente por Warren Farrell e Glenn Sacks enganosas. Afinal, se
mulheres realizam trabalhos domésticos metade para si mesmas e metade para
seus maridos, então somente metade destes serviços deveria contar como
'trabalho' para os propósitos de calcular quantas horas cada sexo trabalha em
média. Incluir a porção de serviço doméstico que elas realizam para si mesmas
como 'trabalho' não faria mais sentido do que incluir o tempo que elas gastam
semelhantemente escovando os dentes, soprando os narizes ou tomando banho!
Além disso, devemos lembrar que uma larga proporção de pessoas é solteira e,
ainda que o serviço doméstico realizado pelo marido ou pela esposa pode
beneficiar a família toda, certamente não há dúvida que ninguém se beneficia
do serviço doméstico realizado por uma pessoa solteira vivendo sozinha além da
própria pessoa. Ninguém pode alegar que um homem solteiro vivendo sozinho
não esteja fazendo esforço acerca de seu serviço doméstico simplesmente porque
ele não está dando sua contribuição acerca do serviço doméstico simplesmente
porque ele não faz tanto serviço doméstico quanto a mulher solteira vivendo
sozinha na casa ou apartamento vizinho!
Ainda assim as cifras citadas por Farrell nas passagens citadas acima
aparentemente computam serviço doméstico feito por pessoas solteiras como
horas gastas trabalhando da mesma forma que eles tratam serviço doméstico
feito por pessoas casadas ou em coabitação!
Ainda assim mulheres solteiras de fato executam mais serviço doméstico que
homens solteiros. Isto provavelmente não é surpresa. De fato, as condições
bagunçadas e anti-higiênicas que muitos homens solteiros, especialmente
estudantes, escolhem viver é largamente notada e é um tópico comum de humor
popular misândrico.
De acordo com dados citados pelo professor de Direito, Kingsley Browne, em seu
excelente Biology at Work: Rethinking Sex Equality [o qual eu comentei
aqui], mulheres solteiras fazem aproximadamente um terço a mais de serviço
doméstico que homens solteiros . Semelhantemente, Catherine Hakim,
citando um estudo diferente, reporta que "mulheres solteiras dispendem 50% a
mais de tempo em serviço doméstico, uma média de três horas por dia em vez de
apenas duas". Por outro lado, por volta dos anos 1960, notava-se que
mulheres solteiras realizavam três vezes o tanto de horas de serviço doméstico
que homens solteiros.
Não obstante, o maior nível de serviço doméstico realizado por mulheres
solteiras quando comparado a homens solteiros também é pertinente por outra
razão mais importante,- a saber, isto sugere que mulheres, quer sejam casadas
ou solteiras, realizam serviço doméstico primariamente para o benefício não de
seus maridos mas de si mesmas.
Afinal, se mulheres solteiras vivendo sozinhas fazem mais serviço doméstico
que homens solteiros vivendo nas mesmas circunstâncias, elas dificilmente
podem estar fazendo isso em benefício de seus maridos ou homens coabitantes
pela simples razão que elas não têm marido ou homem coabitante que poderia
concebivelmente beneficiar-se. Dado que elas vivem para si mesmas, as únicas
pessoas que poderiam possivelmente beneficiar-se são elas mesmas.
Isto sugere que a razão para que mulheres casadas realizem mais trabalho
doméstico que homens casados não é porque elas são exploradas ou coagidas a
realizar serviço doméstico por maridos malignos, exploradores e
sanguessugas. Pelo contrário, isto simplesmente sugere que mulheres, sejam
solteiras ou casadas, simplesmente valorizam o serviço doméstico como mais
importante do que os homens valorizam ou então elas desgostam menos de
fazê-lo.
Talvez, como Angry Harry propôs nas citações com as quais eu abri esta
discussão:
A razão para que homens façam menos serviço doméstico é que, simplesmente,
eles ficam menos incomodados com quaisquer níveis de bagunça.
De fato, mulheres podem até mesmo desfrutar de algumas formas de serviço
doméstico. Por exemplo, Browne reporta: "sobre o forte interesse inventário,
algumas das maiores diferenças de sexo são encontradas em tarefas como
cozinhar, costurar, e 'economia doméstica'. De qualquer forma, não
existe questionamento sobre exploração ou coerção.
Portanto, citando dados mostrando que mulheres solteiras gastam cinquenta
porcento a mais de tempo fazendo serviço doméstico do que homens solteiros,
Catherine Hakim conclui que isto acarreta que "um terço ou mais do tempo gasto
em serviço doméstico por mulheres consiste em extras opcionais, em efeito,
consumo". Assim, longe de representar trabalho, é uma forma de busca de
lazer, análoga a um passatempo.
Como observa Kingsley Browne:
Muito da literatura comparando contribuições de homens e mulheres ao serviço
doméstico inicia das suposições não-estabelecidas que homens e mulheres
valorizam igualmente os frutos do serviço doméstico e que homens e mulheres
consideram tal trabalho igualmente desagradável … Mesmo assim se homens e
mulheres se preocupassem igualmente com o serviço doméstico sendo feito,
esperaríamos que homens e mulheres realizassem montantes iguais de serviço
doméstico antes do casamento e quando o casamento terminasse mediante divórcio
ou morte do cônjuge, a igualdade fosse restaurada
Mulheres solteiras fazem um terço a mais de serviço doméstico que homens
solteiros. Mesmo assim ninguém alega que um homem solteiro vivendo sozinho não
está se esforçando o bastante em relação à mulher solteira vivendo na casa ao
lado. Ademais, se mulheres solteiras vivendo sozinhas fazem mais serviço
doméstico que homens solteiros vivendo sozinhos vivendo sob as mesmas
circunstâncias, isto sugere que a razão pela qual mulheres casadas realizem
mais serviço doméstico que homens casados não é porque elas são exploradas ou
coagidas a realizar serviço doméstico por maridos malignos, exploradores e
sanguessugas. Pelo contrário, isto simplesmente sugere que mulheres, sejam
solteiras ou casadas, simplesmente valorizam o serviço doméstico como mais
importante do que os homens valorizam ou então elas desgostam menos de
fazê-lo.
De fato, se, como as feministas frequentemente sugerem, mulheres casadas
realizam mais serviço doméstico somente ou ao menos primariamente para
benefício dos seus maridos, então mulheres solteiras, sem marido para
beneficiarem, presumivelmente não fariam serviço doméstico nenhum. De qualquer
forma, elas fariam muito menos serviço que homens solteiros, dado que os
últimos presumivelmente estaria obrigado a fazer eles mesmos todo o serviço
doméstico que eles de outra forma exigiriam que fosse feito pelas suas
esposas. Porém, como temos visto, o preciso oposto é o caso.
Portanto, da perspectiva do marido, sua esposa já estaria fazendo mas trabalho
do que o que ele entende como estritamente necessário, portanto qualquer
trabalho extra com o qual ele possa contribuir será completamente
supérfluo. Como Hakim reconhece, "uma explicação para a relutância dos maridos
em ajudar com o serviço doméstico é a suspeita de que pode não haver
necessidade disso" .
De fato, homens parecem receber pouco benefício apreciável estando
casados. Pelo contrário, os dados mostram que homens casados acabam
realizando, em média, quase tanto trabalho quanto faziam quando
solteiros. Como Browne coloca, "as horas de serviço doméstico dos homens são
relativamente constantes ao longo de várias situações maritais e arranjos de
vida" . Para sermos mais precisos, homens casados em média fazem apenas
uma hora a menos de serviços domésticos que faziam quando solteiros .
Portanto, é aparente que homens ganham pouco benefício tangível casando-se -
em média apenas uma hora a menos de trabalho gasto fazendo serviço
doméstico. Mesmo assim precisamente porque eles agora têm uma família para
sustentar, homens casados trabalham geralmente mais horas fora de casa para
prover para sua esposa e filhos, então é duvidoso que este mirrado benefício
(uma hora a menos de trabalho por semana) realmente se converta em um singelo
minuto a mais de tempo livre para si mesmos. Pelo contrário, eles
provavelmente têm bem menos tempo livre no total.
De qualquer maneira, este mirrado benefício (uma hora a menos gasta em tarefas
domésticas) é insuficiente para compensar o suporte financeiro que os homens
casados são esperados - e legalmente obrigados - a prover para suas esposas.
Além disso, homens são legalmente obrigados a continuar provendo tal suporte,
na forma de alimônia e manutenção, mesmo após o relacionamento ter se
dissolvido e o casal ter se separado - mas, é claro, ex-esposas não são
semelhantemente legalmente obrigadas a ficar no lugar do marido e a prover em
favor dele!
Como Browne conclui:
O marido [que se recusa a fazer mais serviço doméstico] não está afirmando
'Agora que tenho uma esposa eu não preciso fazer serviço doméstico', mas algo
mais como 'Agora que tenho uma esposa, não deveria fazer mais serviço
doméstico do que fazia quando era solteiro'
Certamente a contenção feminista que homens casados recebem um vasto benefício
de ter uma esposa para fazer tarefas domésticas em seu lugar, o que facilita
seu maior nível de sucesso no mundo do trabalho, é exposto como absurdo.
Em resumo, é aparente que homens e mulheres simplesmente têm prioridades
distintas e, para homens, serviços domésticos estão mais abaixo na lista. Como
a economista Jennifer Roback candidamente admite:
Quando eu quero que meu marido faça 'sua metade' das tarefas domésticas, o que
eu realmente quero é que ele faça metade de tudo da minha lista de coisas
importantes. Mas ele tem sua própria lista.Ele valoriza algumas coisas que eu
não valorizo. Ele não valoriza todas as coisas que eu valorizo.
Semelhantemente, o Ativista pelos Direitos dos Homens Jack Kammer, em If Men
Have All the Power How Come Women Make All the Rules, observa:
Mulheres fazem um grande ponto que elas fazem mais limpeza doméstica que
nós. Mas são elas quem definem o que é suficientemente limpo. Por que você
nunca ouve falar de um homem reclamando que sua esposa não faz sua devida
parte no polimento do cromado do Camaro?
Apesar de termos sido manipulados a crer que fazer tarefas domésticas é de
alguma forma uma atividade mais desprendida e valiosa que 'polir o cromado do
carro esportivo' e outros hobbies e tarefas caracteristicamente masculinas,
não existe nenhuma razão não-sexista real por que devemos aceitar esta
conclusão.
De fato, a observação que mulheres fazem serviço doméstico primariamente para
seu próprio benefício em vez de para o benefício de seus maridos deveria ser
de pouca surpresa. De fato, basta olhar para a típica decoração de uma casa
marital para notar que este é o caso.
Anedoticamente, a decoração de uma casa conjugal média é projetada mais para o
apelo do gosto típico da mulher que do gosto típico do homem. Como Esther
Vilar observa em The Manipulated Man (o qual eu comentei aqui), "A maior
parte dos homens … de fato prefere o pleno e funcional" e não sentem
necessidade de "cortinas rendadas ou árvores-de-borracha na sala-de-estar"