domingo, 13 de novembro de 2016

"Nerds e Feminismo..." por ToySoldier

Nerds e Feminismo: Feministas Agindo Maldosamente

Já estamos na segunda semana do ano, e feministas começaram o ano em grande estilo indo atrás dos homens mais opressores de todos os tempos: os nerds.

OK, feministas se empenharam em grandes disputas de espancamento contra nerds no verão passado com a radiação do GamerGate. A rodada corrente, porém, tem uma causa distinta.

Scott Aaronson, um blogueiro e cientista, escreveu um comentário descrevendo seu medo de aproximar-se de mulheres quando era mais jovem:
Eu passei meus anos de formação - basicamente dos meus 12 até 20 anos e meio - sentindo-me não "beneficiado", nem "privilegiado", mas apavorado. Eu andava apavorado que uma das minhas colegas de classe viesse de alguma maneira a saber que eu a desejava sexualmente, e no instante que ela soubesse, eu seria zombado, chacoteado, chamado de esquisitão e assustador, talvez até expulso da escola ou posto na prisão. E além disso, que as pessoas que fizessem tais coisas a mim estivessem de alguma forma moralmente corretas em fazê-lo - mesmo que eu não pudesse entender como.

O medo de Aaronson adveio do feminismo, especificamente a noção feminista que todas as interações entre homens e mulheres contivessem um diferencial de poder que homens usam para explorar as mulheres. Aaronson tentou conformar-se às demandas feministas, mesmo assim isto apenas piorou a situação, a ponto de ele ter contemplado suicídio.

Alguém poderia pensar que tais revelações motivariam simpatia, mas estaria errado. O que se seguiu foi um amontoado digital de feministas da maior parte dos blogs esquerdistas e feministas mais proeminentes. Todos empregaram o mesmo argumento: Aaronson é um idiota beneficiado e privilegiado. Ele respondeu a esses comentários, notando que feministas estavam apenas mostrando como seu medo era justificado. Como ele notou:

Eu tomei o mais dramático e auto-sacrificial passo que eu poderia tomar que as pessoas vissem como eu era, em vez de acordar para alguma moldura mental de "homem cientista beneficiado, privilegiado da elite". E muitos responderam usando a moldura ainda mais firmemente, retorcendo minhas palavras até elas encaixarem, e então congratulando-se uns aos outros pela sua bravura nesse proceder.

Aqui, claro, esses twitteiros (e facebookeiros e redditores) inconscientemente ajudaram a basear meu argumento por mim. Alguém ainda não entendeu o tipo de medo paralisante que eu tive que suportar quando mais jovem, que milhões de outros nerds suportam, e que eu tentei explicar no comentário - o medo que pessoas civilizadas fossem condenar-te assim que descobrissem quem você realmente é (mesmo que a realidade pareça longe de incomumente ruim), que sua única escapatória seja mentir ou esconder-se?

Mesmo assim, esta resposta instigou nada além de críticas de feministas, e o amontoado continuou. Por exemplo, Harris O'Malley escreveu dois artigos sobre Aaronson, porque aparentemente apenas um soco malévolo nos intestinos não era o suficiente. O'Malley inicia seu segundo golpe em sua solenidade:
Esta ideia - de que nerds e geeks são injustamente malignizados, que eles são o nível mais baixo do totem social e são incompreendidos, caluniados e perseguidos (!) - é bem comum. Somos oprimidos! Temos sido vítimas de valentões, azucrinados e insultados, como podemos ser privilegiados?!

Esta é uma réplica feminista comum. A intenção é óbvia: como homem, nada de ruim pode verdadeiramente te acontecer. Sua vida é uma moleza. O'Malley demonstra esse argumento fazendo um monte de falatório ácido contra nerds sobre quão horríveis são as coisas para mulheres. Coisas ruins acontecem a mulheres, e tais coisas não ocorrem a homens (exceto quando ocorrem...), ergo ... vis à vis ... concordantemente ... homens são privilegiados.

O'Malley tenta sofismar daí:
Uma das respostas mais comuns que homens têm em discussões sobre privilégio - especialmente quando intimados a reconhecer seus privilégios - é negar que ele exista. "Minha vida não tem sido fácil", eles podem dizer. "Olhe de todas as formas, minha vida não tem sido justa! Olhe de todas as formas que eu tenho me estrepado!" E sejamos justos: eles não estão errados. Sim, homens, mesmo os brancos héteros, lidam com coisas ruins na vida. Eles podem ser pobres. Podem ser doentes ou ter deficiências. Suas vidas podem bem ser uma longa série de episódios onde Lucy tira a bola de Charlie Brown. Os deuses podem bem tê-lo selecionado para ser um eterno idiota azarado, fadado a sofrer em favor da diversão de um cosmo indiferente.

Sinto um cheirinho de "porém" vindo:

Porém, eis onde o privilégio aparece: por ruins que possam ser as coisas, quão piores elas poderiam ser se ele fosse gay? Se fosse trans? Se fosse uma minoria étnica?

E se fosse uma mulher?

Porque, como todos bem sabemos, nada é pior que ser mulher. É muito melhor ser homem gay, transgênero, ou uma minoria étnica do que ser mulher. O mínimo que pode acontecer àqueles três grupos é que as pessoas simpaticamente tentarão:


Em contraste, mulheres serão "assediadas, perseguidas, ameaçadas, caçadas de suas casas e até mesmo SWATeadas sobre opiniões acerca de video games", o que nunca acontece com homens.

Tudo o que esse embaraçamento da vítima faz é lembrar aos nerds que o que aconteceu a eles não foi tão ruim. Poderia ser "pior", como se possuir um cromossomo X, pele escura, ou uma preferência sexual por membros do mesmo sexo tornasse a intimidação, discriminação e ódio doer mais.

O'Malley também tenta o joguinho do "eu sou um de vocês":
Não me levem a mal: eu sou mais que simpático aos meus companmnheiros geeks. Eu escrevi antes sobre crescer com os mesmos medos, crenças auto-restritivas e problemas de identidade que vêm com ser uma pola pálida e esquisitona de ansiedades.

Novamente, sinto um "porém" chegando:
Porém, o problema é que não somos os oprimidos; nós apenas continuamos nos dizendo que somos.

Para registrar, "porém" é um termo de negação. Ele é usado para mostrar que a cláusula anterior não é inteiramente verdadeira. Então, o que O'Malley realmente quer dizer é que ele não é simpático aos geeks. De fato, ele pensa que os problemas que eles enfrentam estão todos em suas cabeças:
As histórias que nos contamos a nós mesmos moldam como vemos o mundo, e a ideia que nerd s geeks são fracos, sem poderes e socialmente indesejáveis acaba nos cegando não apenas para nossa real posição no mundo, mas para os efeitos da nossa própria conduta. Quando você diz a si mesmo que você é o herói por tempo o bastante, você tende a não ver que está agindo como o vilão.

Batman, tem algo que gostaria de compartilhar?



Não apenas O'Malley cita erroneamente o adágio (o correto é "ou você morre herói ou vive o bastante para se ver tornando vilão"), mas ele segue com um
Agora sejamos claros: não estou chamando os geeks de o cara mau.

Pelo amor de ...



O'Malley afirma: "Quando você diz a si mesmo que você é o herói por tempo o bastante, você tende a não ver que está agindo como o vilão". Eu vou colocar de lado a óbvia ironia de essa afirmativa vir de alguém que perdeu dois longos artigos surrando nerds. As afirmações citadas implicam que se você é um nerd que se considera um cara legal, então você na realidade é um vilão.

Ainda assim sinto mais um "porém" se aproximando:
Porém, mitologizando os nerds como pessoas sem auto-estima e sem poder, acabamos não vendo como tratamos mal os outros ao agir, ironicamente ... da mesma forma que os atletas e valentões agem contra nós.

Você sabe, não acho que isto vai vem com interrupções, então vou postar a citação toda na sequência:

As histórias que contamos a nós mesmos moldam como vemos o mundo, e a ideia que nerds e geeks são fracos, sem poder e socialmente indesejáveis acaba nos cegando não apenas para nossa verdadeira posição no mundo, mas para os efeitos de nossa própria conduta. Quando você diz a si mesmo que você é o herói por tempo o bastante, você tende a não ver que está agindo como o vilão.

Agora sejamos claros: não estou chamando os geeks de o cara mau. Porém, mitologizando os nerds como pessoas sem auto-estima e sem poder, acabamos não vendo como tratamos mal os outros ao agir, ironicamente ... da mesma forma que os atletas e valentões agem contra nós.

Estou totalmente impressionado. Esta é uma dupla negação. O'Malley acusa nerds de fabricar suas experiências negativas e acusa que eles são vilões, depois acusa que não são vilões, e então imediatamente reacusa-os de serem vilões. É raro ver esse de duplo padrão da mais alta qualidade fora da política. Novamente eu estou muito impressionado.

O'Malley não acabou ainda. Ele não apenas quer que nerds conheçam que nada ruim de fato acontece com eles e que com outros grupos (mas de verdade mesmo só com mulheres) é pior, mas que nerds agora são os populares:
Francamente, os nerds venceram. A cultura nerd é cultura, ponto. Dos 50 filmes mais lucrativos de todos os tempos apenas um deles - Titanic - não é um quadrinho ou propriedade geek. Guardians of the Galaxy foi o filme mais lucrativo do ano. The Avengers: Age of Ultron e Star Wars: The Force Awakens são os arrasa-quarteirões mais aguardados de 2015. A lista da TV Guide dos programas mais populares da América inclui Marvel’s Agents of SHIELD, Game of Thrones, The Walking Dead, The Originals, Sleepy Hollow, Reign e Arrow. Qualquer Barnes and Noble está estufada de toneladas de brinquedos, calendários e extravagâncias do Doctor Who. Video games saíram da província dos "molecões imaturos vivendo no porão" para algo que todos fazem - os atletas jogam tanto Call of Duty, Destiny e NFL 2015 quanto os geeks e todo mundo com seus cachorros estão jogando Angry Birds, Bejewelled e Candy Crush Saga. Todas as nossas vidas - trabalho, amizades, romance - tomam lugar online agora. Joss Whedon está no comando de uma das mais ambiciosas e frutíferas franquias de cinema de todos os tempos; Elon Musk está posicionando-se a si mesmo como um Tony Stark da vida real; Bill Gates dominou nossos computadores; Steve Jobs redefiniu como consumimos música, televisão e colocou a Internet em todos os bolsos; Bill Nye the Science Guy está no Dancing With the Stars; Neil deGrasse Tyson é uma tremenda estrela, e Mark Zuckerberg sabe quando você se masturba controla sua vida social.

Você quer dizer, assim como todo mundo ouve hip hop e R&B, ama atletas negros, adotou o estilo e gírias das comunidades negras, desfruta de sua comida, copia seus penteados e trejeitos, e elegeu duas vezes um presidente mestiço? Certamente se todas essas coisas aconteceram então não há como os negros ainda sofrerem racismo, certo? Isso deve ter acabado, basta ver quantas pessoas aceitam-nos e aceitam sua cultura, correto?

É como se O'Malley não tivesse nenhum conceito de cultura e interesses populares. Que estas coisas nerds atinjam a cultura pop não quer dizer que todos as aceitam. Só quer dizer que elas estão na vibe do momento. O garoto usando óculos nerds sem lentes é chique; o garoto usando óculos nerds para corrigir problemas de visão será zombado. Sim, você pode vestir sua camiseta The Avengers, mas se falar da HQ, as pessoas vão te odiar. Você pode ver Lord of the Rings dúzias de vezes, mas se citar élfico, as pessoas vão te achar um otário. Você pode gostar de Neil deGrasse Tyson, mas se tiver um "nerdgasmo" sobre Física como o Tyson ocasionalmente tem, as pessoas vão te achar um bichinha.

Existe um limite do que é aceitável, e o limite é ser um fã genuíno. Se você gosta de nerdices porque as acha genuinamente interessantes, você é, foi, e sempre será considerado um perdedor. Quer provas? Leia os artigos de O'Malley.

Ele encerra com um:
Sempre que escrevo qualquer coisa sobre assuntos feministas ou crítica à cultura geek, eu encontro pessoas querendo saber por que ataco homens e/ou nerds. E a razão é simples: eu amo nerds, Eu amo a cultura geek. Eu quero vê-la crescer, florescere quero vê-la tornar-se uma maravilhosa força de criatividade e cultura e comunidade que eu sei que pode ser. E é porque eu a amo que eu tendo a ser tão duro com ela. Nós podemos ser tão melhores do que somos se apenas estivermos dispostos a reconhecer e abordar nossas próprias crenças e atitudes nojentas.

Vou largar o sarcasmo por um momento, para dizer que acho incrivelmente contraproducente dizer a alguém que tem sido repetidamente vítima de intimidação que é tudo coisa da sua cabeça e que ele de fato não é vítima. A antipatia é inteligível, dada a ideologia dirigindo esse argumento, mesmo assim não posso mensurar como alguém pode ser tão cego a ponto de não notar quão danosas e odiosas tais asserções são. Igualmente, falho em ver o valor de desgraçar nerds intimidados e silenciá-los usando o joguinho do "com mulheres é pior".

Eu noto que o artigo de O'Malley não é destinado a nerds ou geeks. Mesmo assim, alguns deles ainda o lerão, e eu espero que eles tenham auto-estima o suficiente para não permitir que esse tipo de culpabilização invectiva da vítima os faça pensar que são más pessoas por causa de seus interesses ou por falar de suas experiências negativas.

Eles não são.

META
Título Original Nerds and Feminism: Feminists Behaving Badly
Autor ToySoldier
Link Original https://toysoldier.wordpress.com/2015/01/12/nerds-and-feminism-feminists-behaving-badly/
Link Arquivado http://archive.today/XYLI0

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