Não, Game of Thrones Não É Um Triunfo Para Feministas
No ano passado, feministas perderam a cabeça com Game of Thrones. Elas declararam o espetáculo como "sexista" porque algumas vezes mulheres eram vítimas de coisas ruins, particularmente estupro. Esqueça que a história é essencialmente uma versão fantástica da Guerra das Rosas entre os Lancaster e os York. Esqueça que ela está ambientada num mundo medieval e portanto mantém as regras e normas sociais que se aplicavam na Europa medieval. Não, feministas esperam que as coisas sejam bem diferentes porque elas querem "se sentir empoderadas".
É claro, feministas ignoram totalmente as montanhas de violência e crueldade cometidas contra homens no espetáculo, incluindo o primeiro episódio em que um garotinho é empurrado de uma janela e fica paraplégico. Feministas não ficaram nem um pouco ultrajadas pelo assassinato de dezenas de crianças que tiveram o azar de serem bastardos de Robert Baratheon. Elas não se preocuparam com a criação de Jon Snow. Elas pareciam regozijar-se na tortura e mutilação de Theon Greyjoy.
A sexta temporada, porém, apresentou uma mudança no tom do espetáculo. Esta temporada passada mostrou mulheres ascendendo ao poder. Tuido bem, não foram as ascensões mais elegantes, igualitárias. Apenas uma das mulheres agiu com honra ou valor. Todos os outros agiram por vingança ou direito adquirido, ou aquilo que as feministas chamam de "empoderamento". Por causa do foco nessas mulheres, agora as feministas apoiam o espetáculo. Elas também agora declaram-no uma "fábula secreta feminista":
Sexta temporada de Game of Thrones tem tido mais frenesi entre feministas que o apoio à corrida eleitoral de Hillary Clinton. Certamente, mulheres de Game of Thrones são feralmente bonitas (com dentes suspeitamente muito bons para tempos pseudo-medievais) e frequentemente estão peladas, mas me acompanhe. Na série, houve uma relativa escassez de prostitutas decorativas, uma série de momentos edificantes e personagens femininos mais fortes e diferenciadas do que você poderia brandir uma espada de aço valiriano. George RR Martin há muito declarou-se feminista: eis aqui seis razões pelas quais a última temporada da adaptação de seus livros pela HBO faz jus a esta declaração.
Rápida correção: Martin não considera a si mesmo um feminista.
A série sempre teve personagens femininas fortes, matizadas. Isto estava óbvio desde o primeiro episódio. Parece, porém, que as feministas não repararam nisso porque estavam focadas demais nas putas de Tyrion Lannister. Sim, tem um monte de mulher em carne nua nas primeiras temporadas. Também tem um montante gratuito de violência, a maioria contra homens e garotos. Ainda assim apenas uma coisa aborreceu as feministas. As numerosas brutalizações e assassinatos de garotos empalideceram-se em comparação com a visão de Theon tendo sexo com uma prostituta nua.
Ceri Radford, bem como muitas feministas, parece esquecer que enquanto estas cenas aconteciam nós víamos personagens como Cersei, Margaery e Olenna fazendo esquemas e tramas numa estrutura social que geralmente as manteve fora do poder direto. Acusar os escritores do espetáculo de sexismo contra mulheres seria semelhante a acusar a NBA de ser racista contra os negros.
Radford tenta recapitular as reclamações feministas sobre GoT ser um lixo completo em razão da misoginia alegando que ele é de fato uma obra feminista. Você pode prever que seus argumentos serão fracos quando ela começa com um dos "testes" feministas mais falhos disponíveis:
Você quer dizer o rígido teste no qual filmes como Homens de Preto falham enquanto filmes como Transformers e séries de TV como Sex in the City passam?
Vamos ler a defesa por Radford de seu inútil "teste":
O teste definitivo para sexismo em tela pergunta se há pelo menos duas mulheres que conversam uma com a outra sobre alguma coisa que não seja homem. Hum, fácil. Uma das melhores cenas de GoT até aqui está no sétimo episódipo da temporada, onde Cersei Lannister (Lena Headey) instiga Olenna Tyrell (Diana Rigg) a se unirem contra os assustadores fundamentalistas que parecem terem sido marcados com biscoitos Wagon Wheel, e Olenna olhou nela e perguntou se ela era a pior pessoa que já havia encontrado.
Você tem um trabalho a fazer: encontrar uma cena onde Olenna e Cersei falam uma com a outra, e ainda assim você escolhe uma cena que tecnicamente falha no teste porque elas estão falando de um homem, o High Sparrow, ao longo de toda a discussão. Você tem quatro temporadas valiosas de conversações para escolher e ainda pega essa?
Em qualquer drama normal, um desses personagens seria um grande favor: Cersei, malevolente, magnética e estranhamente simpática; e Olenna, robusta e hilária.
É curioso que Radford, assim como muitas outras feministas, ache Cersei simpática. Eu notei isso anteriormente nos comentários após o espetáculo. Eu suspeito que seja assim porque Cersei é a personagem mais feminista do espetáculo e da série. Suas motivações são desejo por poder, derrubar (overturning) o sistema para que ela possa ascender, declarando o sistema "errado" porque ela é quem deveria mandar, e um enorme senso de direito adquirido para posições de poder que ela jamais mereceu.
O fato de Cersei fazer sexo com seu irmão, ordenar a morte de crianças, brutalmente assassinar qualquer um que atravesse seu caminho, e causou a morte de um de seus filhos - isso não importa. Tudo que importa é que ela fez o seu caminho.
Feminista pra caramba.
2 - Mulheres são guerreiras, e não meras princesas esperando ser salvasO cavaleiro em armadura brilhante da temporada seis é sem dúvida Brienne de Tarth (Gwendoline Christie), cuja entrada com brandir de espada para resgatar Sansa (Sophie Turner) na abertura é o fio-condutor do feminismo de GoT. Mais interessantemente, ela não se encaixa bem na fantasia usual de uma bela esguia mal-colocada em uma roupa de couro (pense em Xena a Princesa Guerreira, Tomb Raider e, admitamos, Daenerys).
A maioria das mulheres no espetáculo está esperando para ser salva. Um punhado de mulheres age diferente, e mesmo assim isto deve-se primariamente pela natureza das circunstâncias. É digno de nota que a mesma coisa aplique-se aos personagens masculinos. Tommen é um bom exemplo de um personagem inútil e fraco. Isto é primariamente devido a ele ser o mais jovem e portanto inútil no grande esquema do reino.
A questão não é se há mulheres guerreiras. A questão é se tais personagens são interessantes. Brienne é interessante por causa de como ela lida com sua situação. Ela é montada como homem, então a maioria dos homens não quer muita coisa com ela. Ela se apaixona por um homem que gosta de outros homens e depois por um homem desprezado pela maioria dos outros homens. Ela presta sua lealdade a uma mulher que foi assassinada, e ainda cumpre seu dever, ao ponto de pôr em perigo o homem que agora ama.
Este é um personagem interessante. O fato de ela manejar uma espada e vestir armadura não tem importância.
Claro, isso não seria um artigo feminista se não tivesse uma imediata contradição de um ponto anterior. Vós vimos Radford argumentando que mulheres podem ser guerreiras. Agora ela argumenta:
3 - Mas elas não precisam agir como homens para serem poderosasUm dos debates do feminismo contemporâneo é até que extensão se espera que mulheres macaqueiem homens - superando o golfe, zombando o PowerPoint do rival - para seguir em frente. Enquanto personagens como Brienne e Arya agem num estilo convencionalmente masculino e até a Daenerys das madeixas prateadas tenha uma contumaz inclinação por crucifixão, esta não não é a única forma de se manipular o poder. Catelyn Stark incorporou uma contundência mais tradicionalmente feminina na primeira temporada, e desta vez, ninguém se aproxima de Margaery, uma personagem com a astúcia de um mercenário e o sorriso da Princesa Diana. Ela usa toda ferramenta disponível para despistar o High Sparrow, incluindo uma greve de sexo. "Poder é poder", como Cersei tão memoravelmente disse uma vez a Lord Baelish (Aidan Gillen). No universo amoral de GoT, poder é qualquer coisa que funcione, e não tem automaticamente um gênero.
Novamente, você tem um trabalho: pegar uma cena em que uma mulher usou força não-física para provar que tem poder, e você pega uma cena em que Cersei usa guardas armados para ameaçar fisicamente Littlefinger.
Quanto ao ponto que ela faz, isto é o que a maioria dos homens faz ao longo de toda a série. Tywin, Tyrion, Littlefinger, Varys, e até Ramsay Bolton, todos eles usam conversas e manipulação para demonstrar seu poder. Ignorar isso e fingir que é algo único de mulheres é risível.
O que piora o ponto de Radford é que este exato comportamento é historicamente método mais comum que mulheres usavam (e ainda usam) para manobrar o poder. Então, isso não é muito feminista.
4 - Ela confronta a feiúra da violência sexualUm dos momentos mais fascinantes da série é quando Sansa conta a Lord Baelish, o pior planejador de casamentos do mundo, que tinha gostado de ser violentada pelo Sádico-Mor Ramsay Bolton (Iwan Rheon). Não é esperado que damas falem tais coisas; mas ela ainda sentia a dor, "não em meu tenro coração, eu posso ainda sentir o que ele fez em meu corpo, firme aqui e agora".
Uma cena que tangencia o tópico não é "confrontar a feiúra da violência sexual". Nada acontece como resultado dessa cena. baelish não é punido, Sansa não o evita, e Ramsay não encara seu castigo até um tempo depois.
A transição de Sansa de peão a potência, capaz de articular e desafiar os duplos padrões sexuais de seu tempo, é um percurso bastante agradável. De uma maneira sombria, reconhecidamente, dado que isto é GoT, então em vez de seguir em frente com alguma terapia e uma caminhada de feriado em Lake District, ela teve seu atormentador comido vivo pelos seus próprios cães salivantes.
Sansa é uma potência da mesma forma que Bran Stark é um velocista. Ela ainda é uma princesinha inútil esperando que qualquer outra pessoa a salve. A única diferença é que agora ela nota quão estúpida e inútil isso a torna. Ainda assim ela faz quase nada para resolver situações. A exceção é durante a batalha para retomar Winterfell. Claro, ela falha em dizer a Jon Snow que tem o exército de Littlefinger à sua disposição. Em vez disso, ela deixa que seu "irmão" vá numa batalha sem esperanças na qual ele quase morre (de novo), só para atacar no último momento com as forças de Baelish. Ela teria ajudado se tivesse falado do exército para Jon desde o início.
Ao longo de Essos, Daenerys (Emilia Clarke) obteve a vingança definitiva após sofrer as ameaças de estupro dos khals de Dothraki: incendiando o posto deles e emergindo nua e vitoriosa das chamas. Não é uma opção disponível para a maioria das mulheres passando por um lugara de construção, mas gratificante não obstante.
Em um espetáculo onde a morte masculina é tratada com satisfação casual, apenas feministas precisariam que os homens fossem potenciais estupradores a fim de a cena verdadeiramente satisfazê-las.
5 - E isso nos dá a cena entre Daenerys Targareon e Yara Greyjoy
Você quer dizer a cena em que duas mulheres que aniquilaram em seu caminho para o poder e não têm o menor interesse na vida de mais ninguém falando como elas vão devastar um continente, aniquilando dezenas de milhares de homens e meninos, para tomar o Trono de Ferro? Aquela cena "empoderadora"?
Como não saltar do sofá com uma leve satisfação ao ver a louca dura nascida-do-ferro Yara (Gemma Whelan) conquistando a imperiosa Daenerys, fazendo uma causa comum enquanto filhas de homens terríveis em um mundo onde a maioria das pessoas não quer mulheres no comando.
Mais uma vez, estas não são as melhores mulheres para se escolher. Yara invade e estupra em seu caminho pelas vilas costeiras. Ela tem tão pouca preocupação pelo tormento que seu irmão Theon sofreu que ela o leva em um bordel, zomba dele por não mais ter um pênis, e então lhe diz para matar a si mesmo se não consegue superar os anos de tortura que sofreu.
Daenerys é muito pior. Ela tem compaixão por escravos primariamente via projeção. Ela não tem compaixão por mais nada ou ninguém, nenhum entendimento de como conquistar pessoas, nenhuma preocupação com se os senhores de escravos são gentis ou cruéis com seus escravos, e nenhuma preocupação com o bem-estar do povo livre vivendo nas cidades que conquista.
Dani conquistaria a cidade, libertaria os escravos, atacaria seus antigos senhores, e iria embora. É só em Meereen que isto muda, e somente porque os mestres destruíram todos os seus navios, impedindo que Dani fosse até Westeros. E ainda assim, o que ela faz enquanto está em Meereen? Ela tenta estabilizar a cidade? Sim, mas apenas para impedir os mestres de matá-la. Afora isso, sua intenção é ir embora.
Daenerys revira uma sociedade inteira sem nenhuma intenção de consertá-la. Seu único objetivo é conquistar Westeros e tomar o Trono de Ferro. Então quando ela consegue os navios para partir, ela os pinta com emblemas de dragões e zarpa, deixando seu brinquedinho no comando.
Nenhuma dessas mulheres são do tipo que você iria querer no poder.
Mas por todo o fator de se sentir bem, a sala do Trono de Ferro ainda tem um teto de vidro Vamos parar um momento aqui para lembrar o que Yara estava fazendo em uma distante Meereen em primeiro lugar. Se você fosse uma nascida-do-ferro, você obviamente a teria apoiado como rainha. Ela é testada na batalha, leal o suficiente para ficar com o pobre Theon (Alfie Allen, não é totalmente psicopata, em resumo tudo que um grosseiro amante de algas esperaria. Mas quando veio o tempo, junto a um jactante Euron Greyjoy (Pilou Asbæk), e uma piada de pênis, ele foi pronunciado rei.
Isto é provavelmente porque Euron os convenceu que poderiam conquistar Daenerys e trazê-la e a seus dragões para Westeros, conquistar a terra, e ele sentaria no Trono de Ferro. Ele plaanejava cortejar Dani trazendo-lhe seus navios. Yara rouba seu plano e ela mesma apresenta a Dani, até mesmo sugerindo que ela seja o "marido" de Dani.
Numa via similar, Sansa teve outro momento de sermão feminista quando ela censurou Jon Snow (Kit Harington) por não érguntar sua opinião sobre como derrotar Ramsay Bolton, ainda que ela fosse a única que soubesse qualquer coisa sobre a mente doentia do mais petulante psicopata da TV.
Que importante informação ela deu a Jon? Esta não é uma pergunta retórica. Olhe para a cena e tente achar qualquer coisa que ela tenha dito a Jon que ele já não soubesse. Mesmo a nota sobre Rickon ser um morto andante era algo que Jon já sabia. Ele apenas não queria aceitar.
Sansa tinha uma peça importante de informação: Peter Baelish tinha um exército a postos e só precisava de sua ordem para levar aqueles homens ao campo de batalha. Não é um "teto de vidro"; é Sansa agindo como seu ego petulante e interesse pessoal.
Em tempos sexistas, até mesmo o mais branco dos Jon Snows, o mais puro dos heróis, era sexista. É um sistema de pensamento que captura os melhores homens - e as melhores mulheres. Apesar do vasto ambiente e os dragões e os zumbis de gelo com olhos laser, isso é um tema que traz os Sete Reinos desconfortavelmente próximos de casa.
Radford, como muitas feministas, continua olvidando que esta é uma história fantástica medieval. A história deve funcionar nos confins de tal ambientação. Neste caso, mulheres geralmente não estavam em posições de poder. Elas não eram tratadas como iguais aos homens. Elas não eram usualmente guerreiros e nem era esperado que elas lutassem afinal. Podemos achar isto sexista o quanto quisermos, porém era assim que as coisas aconteciam na Europa medieval. Se quisermos contar uma história nesse ambiente, devemos nos ater a tais regras.
Se Radford quer algo diferente, ela pode ler um outro livro ou ver um outro espetáculo. Feministas não têm que se engajar em coisas populares se não quiserem. Porém, elas não vão ditar aos escritores que histórias eles podem contar ou como contá-las. Eles também não vão cooptar um espetáculo e alegar que ele é sobre suas políticas de gênero quando o dito espetáculo é sobre tudo menos sobre feminismo.
Título Original | No, Game of Thrones is not a triumph for feminists |
Autor | Toy Soldier |
Link Original | http://toysoldier.wordpress.com/2016/06/28/no-game-of-thrones-is-not-a-triumph-for-feminists/ |
Link Arquivado | https://archive.today/TPgZY |
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