quinta-feira, 29 de setembro de 2016

"Sexo Frágil? Violência e o Movimento Suffragette" - Parte I

Sexo Frágil? Violência e o Movimento Suffragette


Fern Riddell investiga a campanha de terror orquestrada pelo movimento suffragette edwardiano antes da 1a. Guerra Mundial e pergunta por que esta tem sido negligenciada pelos historiadores

Fotografias de algumas suffragettes militantes terroristasm, em especial Kitty Marion (13), 1914. National Portrait Gallery, London


Nas primeiras horas de uma morna manhã de novembro de 1913, um cano de três polegadas estava preparado para explodir mais tarde e destruir os múltiplos painéis e obras ornamentais metálicas que faziam da Glass House "uma das principais atrações do Alexandra's Park em Manchester". Uma massa flamejante de metal retorcido e vidro quebrado foi descoberta e rapidamente atribuído pela imprensa popular à onda de "fúrias suffragettes" sendo realizadas ao longo do país pelo braço militante do movimento pelos direitos das mulheres. Kew Gardens já tinha sofrido dois ataques, em um orquidário e num pavilhão, e a campanha de incêndios criminosos intimidação conduzida pela ala militante do Women's Social and Political Union (WSPU) e suas colaboradoras estava alcançando seu auge.

Apesar de ninguém ter sido indiciado no ataque em Alexandra Park, acredita-se que sua perpetradora revelou-se mais tarde em uma autobiografia não publicada. Dedicada à "Liberdade Política, Econômica, Religiosa e Sexual das Mulheres", foi obra de Kitty Marion, musicista de palco e militante suffragette. Sua ira pelo tratamento das mulheres no palco, uma indústria em que era esperado que ela trocasse sexo por papéis de liderança e permitia que proprietários dos halls de música a assaltassem em táxis e hotéis sem resistência, a levou a tornar-se uma bombista, incendiária e ativista pública pelo movimento suffragette. Sua autobiografia é um testemunho de sua importância como uma militante defensora dos direitos das mulheres, e mesmo assim a maioria dos historiadores do movimento pelos direitos das mulheres tem ignorado esta fonte. Apenas recentemente ela tem começado a ser referenciada como narrativa importante, contendo testemunho ocular das operações clandestinas do movimento militante suffragette na Inglaterra edwardiana. Poucas abordagens pessoais das ações dessas suffragettes sobreviveram e suas histórias foram escritas pelos cabeças da WSPU - a família Pankhurst em particular. É o seu legado, e os protetores de tal legado, que tem moldado memórias das ações deste grupo de mulheres determinadas e perigosas, cujos métodos de campanha iam desde quebrar janelas a ataques incendiários, bombas e até tentativas de suicídio.

Então por que os historiadores têm falhado em lidar satisfatoriamente com o assunto da violência suffragette? O trabalho da Irmandade Suffragette de 1926, que coletou e gravou para a posteridade memórias e artefatos das militantes suffragettes, era dominado pelo 'argumento da vidraça quebrada'. Esta singela frase veio a definir a "autêntica militância" e, ao mesmo tempo, marginalizar quaisquer atos que escapassem dessa imagem. Atos de militância são então reduzidos à história de não mais que algumas janelas quebradas, enquanto o foco histórico se desvia para as violações corporais forçadas contra as suffragettes, em especial aquelas aprisionadas por violência política: negação de direitos políticos e, depois, gavagem [NT1]. As ações de mulheres como Kitty Marion são largamente olvidadas.

Enquanto a maioria dos historiadores recusa-se em descrever qualquer suffragette como 'terrorista', a maioria aceitaria que as ações das militantes poderiam ser vistas como uma forma de extremismo político. A imprensa usava a mesma linguagem para descrever as ações dos Republicanos Irlandeses do final do século XIX para os ataques suffragettes suffragettes do início do século XX. Ambos eram referenciados como 'Fúrias', ações que perturbaram e aterrorizaram suas próprias sociedades. Se a sociedade contemporânea julgou as ações das militantes suffragettes como sendo iguais àquelas de grupos como os Republicanos Irlandeses, cuja identidade histórica tornou-se central às discussões sobre terrorismo, por que deveríamos continuar a ignorar ou fazer pouco caso da natureza da violência suffragette? Todos os atos violentos de militância suffragette podem ser vistos como atos de terror. Eles foram especificamente projetados para influenciar o governo e a população a mudar suas opiniões sobre o sufrágio feminino, não pela razão mas por ameaças de violência. Essas ameaças eram então levadas a cabo e iam desde quebra de vidraças até destruição de comunicações (queima de caixas postais, corte de fios de telégrafos e telefones); danos a objetos culturalmente significativos (pinturas em galerias nacionais, estátuas cobertas de graxa, caixas de vidro esmagadas na Casa de Joias da Torre de Londres); e incêndios criminosos nos teatros, casas de parlamentares da Casa dos Comuns e pavilhões esportivos. No lado mais extremo, bombas e dispositivos incendiários foram postos dentro e fora de bancos, igrejas e até da Abadia de Westminster. Todos esses atos foram levados a cabo contra o pano de fundo de mulheres acorrentando-se a si mesmas às paliçadas, lançando-se às portas do Parlamento, recusando-se a pagar impostos e marchando em milhares contra um governo que recusou-se a ouvir suas petições ou tomá-las a sério.

Footnotes:
  • [NT1] Gavagem: alimentação forçada

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